Afirmação de que o "dragão"
deu à "besta semelhante ao Leopardo" a sua sede e o seu poder é mais
uma prova de que o "dragão" do Apocalipse, capítulo 12, versículo
3, não é um símbolo
pessoal de Satanás, porque Satanás não abdicou em
favor de qualquer outro ser malévolo, e não cedeu sua sede a qualquer poder
terrestre.
Mas alguém pode dizer que se considera
a "besta semelhante ao leopardo" e a "besta de duas pontas"
como constituindo, ambas, o papado, e por isso é a elas que dragão dá o seu
poder, sede e grande autoridade, mas a profecia não diz isso, não; é só com a
"besta semelhante ao leopardo" que o dragão tem de ver. É só a esta
"besta" que ele dá o seu poder, sede e grande autoridade. É esta
"besta" que tem cabeça que é ferida de morte e depois é curada. É
esta "besta" que faz com que todo o mundo se maravilhe após ela. É esta
"besta" que recebe uma boca para proferir blasfêmias e faz guerra aos
santos durante 1260 anos. E tudo isto se realiza antes de entrar em ação o
poder seguinte: a "besta de duas pontas". Só a "besta semelhante
ao leopardo" simboliza, portanto, o Império Romano em sua forma papalina
sob o domínio da influência eclesiástica.
Para mostrar tudo isto melhor basta
estabelecer um paralelo entre a "ponta pequena", que está no profeta
Daniel, capítulo 7, versículos 8, 20, 24, 25, e este mesmo poder. Esta
comparação tornará patente que a referida "ponta
pequena"
e a "besta
semelhante ao leopardo",
simbolizam, exatamente, o mesmo poder. Mas, a "ponta pequena" é reconhecida como um símbolo do
papado e há seis pontos de identidade, como podemos ver, agora, imediatamente:
primeiro ponto - a "ponta
pequena"
era um poder blasfemo, como está aqui: "proferirá grandes palavras contra
o altíssimo" (profeta Daniel, capítulo 7, versículo 25); a "besta
semelhante ao leopardo" deste Apocalipse, capítulo 13, versículo 6, faz
exatamente o mesmo: "abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus";
segundo ponto - esta "ponta
pequena" fazia guerra contra os santos e os vencia (livro do profeta
Daniel, no Velho Testamento, capítulo 7, versículo 21); também esta besta
(Apocalipse 13, versículo 7) faz guerra aos santos e ainda os derrota;
terceiro ponto - a "ponta
pequena" tinha uma boca que falava grandiosamente (está no profeta Daniel,
capítulo 7, versículos 8 e 20); e desta "besta" lemos (neste mesmo
Apocalipse, capítulo 13, versículo 5): "lhe foi dado uma boca para proferir grandes
coisas, isto é, grandiosidades e ao mesmo tempo blasfêmias";
quarto ponto - a "ponta
pequena" levantou-se ao cessar a forma pagã do Império Romano. A
"besta" do Apocalipse, capítulo 13, versículo 2, se levanta ao mesmo
tempo, porque o dragão, a Roma pagã, lhe dá o seu poder, a sua sede e ainda
grande autoridade;
quinto ponto - foi dado poder à "ponta pequena para continuar" por um tempo, dois tempos e metade de um tempo (como está no
profeta Daniel, capítulo 7, versículo 25); a essa "besta" também foi
dado poder por 42 meses, ou sejam, 1260 anos (Apocalipse, capítulo 13,
versículo 5);
sexto ponto - no fim daquele período
especificado, o domínio da "ponta pequena" havia de ser tirado
(profeta Daniel em seu livro, capítulo 7, versículo 26); no fim do mesmo
período a própria "besta semelhante ao leopardo" havia de ser levada
em cativeiro (Apocalipse 13, versículo 10). Ora, ambas estas especificações se cumpriram
no cativeiro, e exílio do Papa, e na derrocada temporária do papado pela França
em 1798.
Como se vê mais uma profecia
rigorosamente cumprida neste Apocalipse. Temos, aqui, alguns pontos que provam
identidade, porque quando temos na profecia dois símbolos como neste caso,
representando poderes que entram em ação no mesmo tempo, ocupam o mesmo
território, mantendo o mesmo caráter, fazendo a mesma obra, e existem durante o
mesmo espaço de tempo e têm o mesmo destino, então, estão estes símbolos
representando o mesmo poder.
Ora, todos os pormenores especificados,
se aplicam à "ponta pequena" e à "besta semelhante ao
leopardo" do capítulo 13, mostrando que estes dois símbolos representam o
mesmíssimo poder. Admite-se, geralmente, que a "ponta pequena"
representa o papado e, quem pretender que esta "besta semelhante ao
leopardo" não representa o mesmo, para ser coerente, deve provar que na mesma altura em que se levantou o
papado se levantou outro grande poder, exatamente como a besta, e ocupando o
mesmo território, e revestindo o mesmo caráter, e fazendo a mesma obra, e
continuando durante o mesmo espaço de tempo e tendo o mesmo objetivo,
subsistindo, porém, como poder separado e distinto. Ora, tudo isto seria tão
absurdo quanto impossível.
E a "cabeça ferida de
morte"? Evidentemente foi a cabeça
papal. Somos levados a esta conclusão, naturalmente, pelo princípio evidente de
que o que é dito em profecia do símbolo de qualquer governo se aplica a esse
governo, somente enquanto é representado por esse símbolo. Ora, Roma é
representada por dois símbolos: o "dragão" e a "besta semelhante
ao leopardo", porque apresentou duas fases, a pagã e a papal. E o que se
diz do dragão só se aplica a Roma na sua forma pagã. O que se diz da
"besta semelhante ao leopardo" só se aplica a Roma na sua forma
pretensamente cristã.
Mas Roma era pagã no tempo de São João
Evangelista que viveu debaixo da sexta cabeça: a imperial. Isto nos mostra, imediatamente,
que seis cabeças incluindo a imperial, pertencem ao "dragão". E se
alguma destas cabeças foi ferida de morte, então foi uma das cabeças do dragão
ou uma das formas de governo que pertenciam a Roma na sua forma pagã, portanto,
não uma das cabeças da besta.
São João deveria ter dito: "Vi uma das
cabeças do dragão, ferida de morte". Noutras palavras: esta ferida atingiu alguma forma de
governo que existiu no
Império Romano depois
da sua passagem
do paganismo para o chamado
cristianismo. Porque Cristianismo mesmo ainda não existe na face da terra. Mas,
enfim, após esta passagem, não houve senão uma cabeça, que foi a cabeça papal.
O símbolo, tal como é aqui
apresentado, tinha apenas sete cabeças representando sete formas de governo não
contemporâneas, mas sucessivas. Sem dúvida, que apenas uma cabeça está governando
de cada vez, mas são colocadas todas juntas sobre o dragão e a besta para
identificar ambos estes símbolos como representando o poder Romano. Seis
cabeças pertenciam ao "dragão", isto é, seis formas de governo
tiveram lugar e desapareceram, uma após outra, enquanto a religião de Roma era
pagã, e só uma teve lugar após a mudança para o cristianismo, e esta era a
papal. E esta, como um poder espiritual, continua até o fim (é uma advertência do
Apóstolo São Paulo, inspiração divina, basta
verificar sua II Epístola aos Tessalonicenses, capítulo 2, versículo 8). E como
poder temporal vai até o tempo em que seu domínio lhe é tirado pouco antes do
fim (aqui já é o livro do profeta
Daniel, capítulo 7, versículo 26).
Assim fica, fora de toda controvérsia, que a "cabeça ferida de morte", ferida essa, depois de curada, não
foi outra senão a cabeça papal. E ser
assim ferida é o mesmo que ir em cativeiro (Apocalipse, capítulo 13, versículo
10). Isto sucedeu quando o papa foi feito prisioneiro pelo general francês
Berthier (Louis-Alexandre), e o governo papal, temporariamente, foi abolido em
1798. Despojado do seu poder, tanto civil como eclesiástico, o cativo papa
morreu no exílio em Valença, na França,
a 29 de agosto de 1799. Mas a "ferida mortal" foi curada quando
o papado se restabeleceu, embora com a diminuição do seu antigo poder, pela
eleição de um novo papa. Isto aconteceu no dia 14 de março do ano de 1800. É o
que dizem Bower, "História dos Papas", páginas 404 a 428, e George
Croly, sobre o Apocalipse, edição de Londres, página 251.
Finalmente: "esta besta
abre a sua boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome."
São os presunçosos títulos
abusivamente lançados em nome do próprio Jesus, quando é sabido que Jesus não estabeleceu
nenhum papa. Ele blasfema do Tabernáculo do Céu, chamando a atenção dos seus
súditos para o seu próprio trono e palácio em vez de chamar essa atenção para o
Tabernáculo de Deus, afastando a sua atenção da Cidadela Celeste, da Jerusalém
Celestial, indicando-lhes Roma como cidade eterna. Diante do Evangelho isto é
blasfêmia, é blasfêmia diante do Apocalipse, blasfêmia dos que habitam no céu, pensando exercer o poder de perdoar pecados, afastando, assim, a mente dos
homens da Obra Mediadora do Cristo e dos seus Espíritos de Luz no Santuário
Celestial. Ninguém tem poder de perdoar pecados. Absolutamente, ninguém! Pelo
versículo 10 somos, de novo, levados aos acontecimentos de 1798, quando o poder
que, durante 1260 anos, levou ao cativeiro os santos de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário