sábado, 13 de julho de 2019


sem Ele, Cristo Jesus".   O próprio  Cristo  foi  o agente por meio  do qual,   Deus,  o Supremo Arquiteto, criou todas as coisas. Este é que é chamado o Unigênito de Deus, viria a ser, justamente, impróprio aplicar esta expressão a qualquer ser criado no sentido comum da palavra, porque Jesus é o Cristo, e cada planeta tem também o seu Cristo.

Ora, a censura que Ele traz contra os laodicenses é que são tíbios, eles são indiferentes, isto é, são apáticos, não são frios propriamente como a frieza. O que impõem é uma posição mundana, o que lhes falta é aquele fervor religioso, aquela fé, aquele zelo, aquela devoção que exigirá deles a posição que ocupam na história final do mundo. E esta tibieza, esta apatia, é manifestada pela ausência de boas obras, e é pelo conhecimento das suas obras que a testemunha fiel e verdadeira faz essa terrível censura contra eles, então, diz: "Oxalá fosses frio ou quente".

Três estados são apresentados nesta mensagem: o frio, o morno ou tíbio, e o quente. É importante determinar a condição que cada um representa, a fim de nos precavermos contra conclusões errôneas, precipitadas. Podem considerar-se três condições de vida espiritual com respeito à Igreja, e, aqui, não se fala de uma igreja particular: é a Igreja Universal, toda a Cristandade, dividida com diversos nomes.  É a Igreja do Novo Mandamento que reúne todas as boas ovelhas que estão em todos os rebanhos, esta é a Igreja de Deus, esta é a Igreja do Cristo. Não é difícil conceber o que significa a forma quente. Imediatamente nos lembramos do estado de intenso fervor, de zelo, em que todas as aflições, elevadas ao mais alto grau, se concentram em Deus e sua divina causa, e se manifestam em obras correspondentes.

Mas, meus amigos e meus irmãos, a tibieza é, exatamente, a falta de zelo, deste fervor, do estado sem coração, sem entusiasmo, indo até ao cinismo. O estado em que não há abnegação desde que custe alguma coisa, nem vontade de levar uma cruz que pese, nem decidir do testemunho da Palavra de Deus, não só da combatividade valorosa que mantenha retesados os nervos como armadura bem corrigida. E o que é pior: o sentimento de completa satisfação deste estado lamentável. Não será este o cinismo do século, o deboche entronizado?

Já o ser frio, o que é? Será o estado de corrupção, de impiedade, de sarcasmo, que caracteriza o medo dos descrentes? Não podemos pensar assim, por várias razões. Seria chocante repetir, supor que Jesus desejasse, sob qualquer circunstância, que as pessoas estivessem em tal condição de frieza. Como diz: Oxalá fosses frio ou quente! Nenhum estado pode ser mais ofensivo para o Cristo do que o de pecador na aberta rebelião, e com o coração cheio de toda espécie de maldade. Isso seria, portanto, incorreto, supor o Cristo preferindo esse estado  a qualquer posição que seu povo possa ocupar enquanto é ainda retido como Povo.

O motivo da ameaça e rejeição, do versículo 16, é que não são frios nem quentes. Talvez isto quer dizer que se fossem frios ou quentes não seriam rejeitados?   Mas  se   o frio  significa  um  estado  de  aberta   impiedade mundana seriam rejeitados por este mesmo fato, de onde concluímos que não pode ser este o seu significado. Por conseguinte, nos vemos forçados a concluir que, por esta linguagem, nosso Senhor não se refere, de modo algum, aos que estão fora dessa Igreja, de seu rebanho único. Aos seus (do rebanho único) três graus das questões espirituais, dois dos quais mais aceitáveis aos seus olhos do que o terceiro. O calor e o frio são preferíveis à mornidão.

Mas que espécie de estado espiritual é significado pelo termo "frio"?  Devemos ressalvar, primeiro, que é um estado de sentimento. Sob este aspecto é superior á tibieza, que é um estado de insensibilidade, de indiferença, suprema satisfação própria, entretanto, só devendo encontrar-se no estado de sentimento. E, assim, como quente, que representa alegre fervor no vivo exercício das afeições, com o coração transbordante de sensível presença de Deus, assim, também, por frio, podemos compreender uma condição espiritual caracterizada pela ausência desses traços, aquelas  em que o indivíduo sente essa ausência e anseia recuperar o seu tesouro perdido.

Entenderam bem? Este é o crime a que Jesus se refere, não para elogiar, mas nesse sentido de se recuperar. Esse estado deve estar bem expresso pela linguagem do patriarca Jó (qualquer um pode examinar no capítulo 23, versículo 3, do Livro de Jó, no Velho Testamento da Bíblia Sagrada): "Ah! Se eu soubesse onde o poderia encontrar!" Nesse estado não há indiferença nem contentamento, o que há é uma sensação de frieza, incapacidade e mal estar. Um como que tatear a busca de alguma coisa melhor. E o "frio" sabe o que existe, há esperança para uma pessoa nesta condição. Ela se esforça por encontrar aquilo que sente, o que lhe falta.

Já o mais desanimador no aspecto "tíbio" ou "morno" é a inconsciência do estado em que se encontra: a impressão de que não tem necessidade de nada (quanto pior, melhor), nada lhe falta. Assim se compreende bem o motivo porque Jesus preferia, em seu rebanho único, um estado de insatisfação, mas não de tibieza. Um estado, digamos, de frieza transitória, mas não dessa tibieza confortável, indiferente e insensível. Uma pessoa não permanece muito tempo fria, seus esforços a levarão, brevemente, ao estado de fervor, da fé. Mas o "tíbio", o "morno", está em perigo se permanecer assim até que a "testemunha fiel e verdadeira" seja obrigado a rejeitá-lo como coisa estagnada e repugnante. Daí a expressão violenta: "Como não és frio nem quente, eu te vomitarei da minha boca".

Aqui é reforçada, ainda mais, a figura da rejeição do "tíbio", ilustrada pelos nauseantes efeitos da água estagnada, significando, assim, uma rejeição total, uma completa separação do rebanho único; não há lugar para gente dessa espécie. E, esta gente, evidentemente, faz uso do seu livre arbítrio; não é Deus que assim quer, não é Jesus, não é o Espírito Santo. É a própria pessoa, que no uso consciente do seu livre arbítrio, prefere a mornidão, o cinismo da tibieza, da apatia espiritual. E ainda diz: "- Estou rico, estou enriquecido", é o que os laodicenses pensam quando estão nessa condição. E não são hipócritas, porque não sabem que são pobres, miseráveis, desgraçados, cegos e nus, então, o Cristo lhes dá um conselho.  O conselho que lhes é dado por Jesus: "Compra de mim, diz a verdadeira testemunha, ouro provado no fogo, para que te enriqueças, e vestes brancas para que te vistas, e unges os teus olhos, com colírio, para que vejas".

Isto mostra logo, aos indivíduos laodicenses, os objetivos que lhes faltam e a extensão de sua pobreza deplorável. Mostra, também, onde pode obter aquilo de que tanto carecem e lhes apresenta a necessidade de obterem sem nenhuma demora. O caso é tão urgente que o nosso grande advogado, que é Jesus, nos envia um conselho especial sobre este ponto. E o fato de que Aquele que condescende e indica o que nos falta, nos aconselha a comprar Dele mesmo,  nos convida a procurá-las junto de Si mesmo. É a melhor garantia de ser respeitado o nosso esforço e de ver atendido o nosso pedido. De ser aceito por Deus a nossa súplica.

Mas como devemos comprar estas coisas? Este ouro provado no fogo?

Exatamente como compramos todas as outras graças do Evangelho: "Ó vós,  todos  vós  que  tendes  sede, vinde  às águas, e os que não tendes dinheiro vinde, comprai e comei, vinde e comprai sem dinheiro e sem preço, vinho e leite" (é o que está no profeta Isaías, capítulo 55, versículo 1). Deste modo compramos pedindo, isto é, comprar de graça, meus amigos, meus irmãos. Compramos lançando fora as inúteis ninharias do mundo, e recebemos, em seu lugar, tesouros inestimáveis. Compramos Dele simplesmente, e recebemos Dele, do nosso Redentor. Compramos e nada dando em paga. 

O que é que compramos nós, assim de graça?

- O pão que não perece, pão eterno, imaculadas vestes que não se mancham, riquezas que não se corrompem, segurança que não se dissipa jamais.

Estranho comércio este! Todavia, Jesus condescende tratar assim seu rebanho único. Ele podia obrigar-nos a ir como os demais pedintes e até nos humilhar, mas, ao contrário disso, Ele nos dá tesouros da Sua graça e em troca recebe a nossa indignidade para que recebamos as bênçãos que nos concede, não como esmolas atiradas aos mendigos, mas como legítimas aquisições de compras honradas. Isto é extraordinário, e exprime bem o amor infinito de Jesus com relação a cada de um de nós.  As coisas que se deve obter reclamam uma atenção particular, e são enumeradas do seguinte modo:

1) "Ouro" - considerado literalmente - é o nome que abrange todos os bens e riquezas da terra. No sentido figurado deve significar as riquezas espirituais. Que graça é, então, representada pelo "ouro", ou antes, que graças são representadas pelo "ouro"? Porque, sem dúvida, a ampla compreensividade destas coisas não corresponde apenas a uma graça. O Senhor disse à Igreja de Esmirna que sabia da sua pobreza,  mas que era



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