Não era por um assalto violento feito
aos gregos que o seu Império havia de ser derrubado e perdida a sua independência,
entenderam bem? Mas, sim, pela entrega voluntária e simples dessa independência
nas mãos dos turcos através de Murad II. A autoridade ou supremacia do poder
turco foi reconhecida quando Constantino disse virtualmente: "Não posso
reinar sem que vós o permitais". Ora, os "quatro anjos" foram
soltos por uma hora, um dia, um mês e um ano. Para quê? Para matar a terça
parte dos homens.
Este período, durante o qual devia existir
supremacia otomana perfaz 391 anos e 15 dias. Com efeito, um ano profético corresponde a 360 dias proféticos,
ou 360 proféticos corresponde a um ano literal, e uma hora (ou vigésima quarta
parte de um ano literal) é 15 dias. Então somando tudo encontramos 391 anos e
quinze dias. Mas apesar de os quatro anjos serem, assim, soltos pela voluntária
submissão aos gregos, outra ruína aguardava a sede do Império, porque Murad II,
o sultão, a quem foi feita a submissão de Constantino XIII e, com sua
permissão, este reinou em Constantinopla (isto é fato histórico), morreu pouco
depois, sucedendo-lhe no Império, em 1451, Maomé II que pôs em seu coração
conquistar Constantinopla para sede do seu Império.
Maomé II fez, portanto, preparativos para cercar e tomar a cidade: o
cerco começou em 6 de abril de 1453, e terminou com a tomada da cidade e a morte
do último dos Constantinos, em 16 de maio seguinte. E a cidade Oriental dos
Césares se tornou a sede do Império Otomano (também é fato histórico). As armas
e processos de guerra usados no cerco em que Constantinopla foi tomada, foram,
como veremos, distintamente notados pelo Revelador. E é bom observar que o
Revelador, aqui, é o próprio Jesus, que se serve do seu servo João, o
evangelista e agora profeta; o autor terreno, digamos assim, deste Apocalipse.
"E o número
dos exércitos dos cavaleiros (versículo 16) era de duzentos milhões, eu ouvi o
número deles".
Inumeráveis hordas de cavalos daqueles que os montavam (Gibbon escreve assim a primeira
invasão do território romano pelos turcos), miríades de cavalos turcos se
espalharam por uma frente de seiscentas milhas, desde o Tauro a Erzerum, e o
sangue de cento e trinta mil cristãos foi um grato sacrifício ao profeta Maomé.
Alguns supõem que é apresentado duas vezes o número duzentos mil, segundo
alguns intérpretes, encontram esse número de guerreiros turcos no cerco de
Constantinopla.
Dizem outros, que duzentos mil
significam todos os guerreiros, evidentemente turcos, durante os trezentos e
noventa e um anos e quinze dias do seu triunfo sobre os gregos. Nada eles podem
afirmar, porém, sobre este ponto. Nenhum deles pode afirmar nada a este
respeito, como veremos mais tarde.
No versículo 17, desse mesmo capítulo
9:
"E assim, vi
os cavalos nesta visão, e os que sobre eles cavalgavam tinham couraças de fogo,
e de jacinto e de enxofre, E as cabeças dos cavalos eram como cabeças de leões,
e de suas bocas saíam fogo, fumo e enxofre."
Ora, a primeira parte desta descrição
alude ao aspecto destes cavaleiros: fogo, como cor, representa vermelho,
empregando-se com frequência a expressão "vermelha como fogo";
jacinto, representa o azul; o enxofre, representa o amarelo (e estas cores
predominavam muito no vestuário desses guerreiros). De sorte, que a descrição,
segundo este ponto de vista, condizia bem com o uniforme turco, que era
composto, em larga escala, por vermelho (ou escarlate), azul e amarelo.
"As cabeças
dos cavalos eram como cabeças de leões" - representando a sua força, coragem e, também,
ferocidade. Por sua vez, a última parte do versículo se refere, sem
dúvida, ao uso da pólvora, armas de fogo
para fins guerreiros, introduzidas havia pouco tempo. Como os turcos disparavam
suas armas de fogo de cima dos cavalos, parecia ao observador distante, o
vidente, que o fogo, que o fumo (o fogo e o enxofre) saíam das bocas dos
próprios cavalos. Daí esta visão, assim dada aos observadores que têm olhos de
ver.
Entre os comentadores existe um acordo
geral em aplicar a profecia acerca do fogo, do fumo e do enxofre ao uso de
armas de fogo pelos turcos na sua luta contra o Império do Oriente (basta ver
Clarke, Burns, Elliot e também A. Cotter Paiva. Mas, em geral, alude apenas a
artilharia, aos grandes canhões empregados por este poder. Mas a profecia
mencionar, especialmente, os cavalos e o fogo que saía das bocas dos cavalos
como se fossem usadas armas pequenas de cima dos cavalos está, evidentemente,
explicado.
Burns pensa que assim acontecia, e uma
frase de Gibbon confirma esse parecer. Diz ele: "As incessantes arremetidas de lanças e dardos
eram acompanhados pelo fumo, o som e o fogo dos seus arcabuzes e canhões".
Temos aqui,
portanto, uma boa evidência histórica de que os arcabuzes foram usados pelos turcos, e por outro lado é
inegável que em suas guerras combatiam, principalmente, a cavalo.
E, pois bem
apoiada a conclusão de que usavam armas de fogo a cavalo,
cumprindo exatamente a profecia do Apocalipse.
Ainda acerca do uso das armas de fogo, pelos turcos na sua campanha contra Constantinopla, vale a pena ver "As
Horas Apocalípticas", de Elliot, no
volume I, página 482 e 484, onde diz o seguinte:
"A morte da terça parte
dos homens, isto é, a tomada de Constantinopla e, por consequência, a destruição
do Império Grego, foi devido ao fogo, fumo, enxofre: artilharia e armas de fogo
de Maomé. Mais de 1.100 anos tinham já
decorridos desde a sua fundação por Constantino, e durante esse tempo, godos,
hunos, persas, búlgaros, sarracenos, russos e os próprios turcos otomanos
tinham feito seus assaltos hostis ou posto cerco contra ela. Entretanto, as fortificações eram
inexpugnáveis para eles; Constantinopla sobreviveu e com ela o Império Grego,
daí a ansiedade do sultão Maomé encontrar o que pudesse remover aquele
obstáculo".
"Podes fundir um canhão?" Foi a pergunta ao fundidor de
canhões, que, para junto dele, desertou, e concluiu: "Um canhão de tamanho
suficiente para abater os muros de Constantinopla?" Pois bem, a fundição foi imediatamente
estabelecida em Adrianópolis. O canhão foi fundido, a artilharia foi preparada
e o cerco teve início.
É digno de nota como Gibbon (sempre um consciente
comentador da profecia do Apocalipse) põe este novo instrumento de guerra no
primeiro plano do seu quadro na sua eloquente e impressionante narrativa da
catástrofe final do Império Grego. Em
preparação para ela, apresenta a história da recente invenção da pólvora, na
mistura salitre, enxofre e carvão.
Fala do seu primeiro uso pelo sultão
Murad II, e, também, como já dissemos, da fundição de maiores canhões por Maomé
II em Adrianópolis. E depois no regresso do próprio cerco, descreve: Como as
arremetidas de lanças e dardos eram acompanhadas pelo fumo, e som, o fogo das
espingardas e canhões, como a extensa ordem da artilharia turca fazia fogo
contra as muralhas, troando ao mesmo tempo 14 baterias sobre os lugares mais
acessíveis, como as fortificações que durante séculos tinham resistido à hostil violência,
agora se desmantelavam, por toda parte, sob os canhões otomanos. Muitas brechas se abriam, e, perto da porta
de São Romano, quatro torres desmoronaram.
Mais ainda, como e quanto para todos
os lados das linhas das galés e da ponte, a artilharia otomana fazia fogo, e o
campo e a cidade deles, os turcos, estavam envolvidos numa nuvem de fumo que
apenas poderia ser repelida pela libertação ou destruição final do Império
Romano. Finalmente, como as duas muralhas foram reduzidas pelos canhões a um
montão de ruínas, e os turcos arremessando-se através das brechas,
Constantinopla foi tomada, seu Império subvertido, sua religião conspurcada
pelos conquistadores maometanos.
Repito: É digno de nota como Gibbon
atribui de um modo tão claro e impressionante a tomada da cidade, e, desse
modo, a destruição do Império pela artilharia Otomana. Que é isso senão
comentários às palavras desta profecia? "Com estas três pragas foi morta a terça parte
dos homens, isto é, pelo fogo, pelo fumo e pelo enxofre que saía das suas bocas".
Temos, agora, o versículo 18 deste
mesmo capítulo 9 do Apocalipse, aliás versículos 18 e 19, que se completam:
"Por estas
três pragas foi morta a terça parte dos homens, isto é, pelo fogo, pelo fumo e
pelo enxofre que saíam da sua boca, porque o poder dos cavalos está na sua boca
e nas suas caudas, porquanto as suas caudas são semelhantes à serpentes, tem cabeça,
e com ela danificam."
Ora, se estes dois versículos exprimem o efeito mortal do novo modo de guerra
introduzido, foi por meio destes agentes, pólvora, armas de fogo e canhões que
Constantinopla foi, finalmente, conquistada e entregue nas mãos dos turcos.
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