apresentada "como perfume
suave". Mas, em breve, chegaremos aos dias de Constantino em que a Igreja
apresentará fase nova, tendo aplicado à sua história um nome e mensagem muito
diferente. Ora, segundo a aplicação anterior, como já vimos em nossos
comentários, os limites históricos da Igreja de Esmirna são os anos 100 até o
ano 322.
Agora, vejamos os versículos 12 a 17,
deste segundo capítulo:
"Ao anjo da
igreja que está em Pérgamo, escreve isto, diz aquele que tem a espada aguda de
dois fios: Eu sei as tuas obras, sei onde habitas e onde está o trono de
Satanás, mas guardas o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de
Ântipas, minha fiel testemunha e que foi morto entre vós, onde habita Satanás.
Mas, tenho algumas coisas contra ti, porque tens aí os que seguem a doutrina de
Balaão, o qual ensinava a Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de
Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria e se prostituíssem.
Assim, tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas e que eu detesto.
Portanto, arrepende-te, senão brevemente virei a ti e contra eles pelejarei com
a espada da minha boca. Quem tem ouvidos
ouça o que o Espírito diz às Igrejas. Ao que vencer eu darei a comer o maná
escondido e lhe darei uma pedra branca, e na pedra branca um novo nome escrito,
o qual ninguém conhece, senão aquele que o recebe."
Ora, contra a Igreja de Esmirna, que
acaba de ser considerada, não é pronunciada palavra alguma de condenação. A
perseguição devia conservar sempre a Igreja puríssima e convidar seus membros a
plena piedade. Mas atingimos agora um período em que começam a operar influências,
através das quais se foram introduzindo erros dos mais tremendos na Igreja. Era
o Imperialismo Romano.
A palavra "Pérgamo"
significa altura, elevação. O período abrangido por esta Igreja há de ser
situado desde o tempo de Constantino, ou melhor, talvez desde a sua professa
conversão ao chamado cristianismo (que ainda não existe, porque ainda não
aconteceu o verdadeiro Cristianismo na face da terra). Mas esta conversão de Constantino aconteceu no ano 323
e este período vai até o estabelecimento do papado no mundo, em 538. Foi um
período em que os verdadeiros servos de Deus tiveram de lutar contra o espírito
de política, de orgulho e mundanismo entre os seguidores do Cristo, e contra as
virulentas operações do "ministério da iniquidade" de que se fala São Paulo, e tudo isto resultou no
perfeito desenvolvimento do homem do pecado. Esta é a triste verdade!
"Onde está o
trono Satanás"
Ora, o Cristo toma conhecimento da situação desfavorável do seu povo durante
este período. A linguagem empregada não se refere, provavelmente, a qualquer
localidade. Satanás opera onde quer que estejam os cristãos, mas, certamente,
há tempo e estações em que ele opera com especial poder. E o período abrangido
pela Igreja de Pérgamo foi um desses, porque diante desse período a doutrina
imácula do Cristo vinha se corrompendo: estava operando o "ministério
da iniquidade".
Satanás começava a lançar o próprio
fundamento deste grande sistema de iniquidade que é o
"cesarismo romano", "cesarismo religioso". Era a apostasia
predita por São Paulo na II Epístola aos Tessalonicenses, capítulo 2, versículo
3.
"E Ântipas"?
Há bons e
sérios motivos para crer que este nome se refere a uma classe de pessoas e não
a um indivíduo especificado. Não se conhece informação autêntica a respeito de
semelhante Ântipas. A este propósito, diz Müller: Ântipas não foi um indivíduo
mas uma classe de pessoas que se opunham ao poder dos Bispos e Papas naquele
tempo. Uma combinação de duas palavras "anti", que quer dizer
"oposto, contra", e "papas, pai ou papa". Naquele tempo
muitos deles sofreram martírio em Constantinopla e Roma, onde os Bispos
começavam a exercer o poder e pouco depois adquirir a proteção dos próprios
reis da terra. Não há motivo para rejeitar esta explicação deste significado
"Ântipas", que aparece no texto. A história daquele tempo é absolutamente
omissa acerca de um indivíduo chamado Ântipas. Por sua vez, diz Robson: "A
antiga história eclesiástica não apresenta informação alguma acerca de
Ântipas". O doutor Clark menciona a existência de uma Obra chamada
"Atos de Ântipas", mas dá a entender que seu título não merece
crédito algum.
E o motivo de censura?
Uma situação
desvantajosa não é desculpa para a Igreja cometer seus erros, embora essa
Igreja tivesse num tempo em que Satanás operava de maneira particular. Era
dever dos cristãos se conservarem puros do fermento das suas más influências, como
dizia o próprio Jesus no Evangelho: "Guardai-vos
do fermento dos fariseus que é a hipocrisia". E é por isso que foram censurados
por albergarem em seu seio os que seguiam a doutrina nefasta de Balaão e dos
nicolaítas. Revela-se, aqui, parcialmente, em que consistia a doutrina de Balaão. Ele ensinou Balaque a lançar tropeços
diante dos filhos de Israel (quem quiser recordar essa história
deve ler o Pentateuco de Moisés, precisamente no livro Números, capítulos 22 a
25; e 31, nos versículos 13 a 16 deste livro). Ora, Balaão desejava amaldiçoar
Israel por causa da rica recompensa que Balaque lhe ofereceu se fizesse tal
coisa, mas não lhe sendo permitido pelo Senhor amaldiçoá-los, resolveu realizar
o mesmo por um processo diferente. Então aconselhou Balaque a seduzir os filhos
de Israel por meio das mulheres de Moabe, que eles participassem da celebração
dos ritos da idolatria e em todas as licenciosidades que os acompanhavam. Pois
a verdade é que o plano surtiu efeito. As abominações da idolatria se
espalharam pelo acampamento de Israel, a maldição de Deus foi atraída por esses
pecados, e só aí morreram 24.000.
As doutrinas censuradas na Igreja de
Pérgamo eram, sem dúvida, semelhantes às suas tendências, levando à idolatria
espiritual e a um ilícito contato entre a Igreja e o mundo. E foi esse espírito
nefasto que produziu, finalmente, a união entre os poderes civil e eclesiástico.
E isso culminou na criação do Papado. Daí a significação do "arrepende-te", disciplinando ou expulsando os que
defendem essas perniciosas doutrinas. O Cristo declarou que se não o fizessem
Ele mesmo tomaria o caso em suas mãos; que viria e
batalharia contra eles, os que defendiam estas doutrinas nocivas. E toda a
Igreja se tornaria responsável pelos males praticados por esses heresiarcas que
albergavam no seu meio. É o crime da convivência. Tudo isto é muito importante,
merece profunda meditação!
Finalmente, a promessa:
"Ao que
vencer é prometido que há de comer o maná escondido". E como sinal de aprovação: "Há de
receber do seu Senhor uma pedra branca com um novo nome e precioso gravado
nela".
Não se pode exigir muito na exposição
acerca do "maná escondido" e de um "novo nome", que não é
conhecido senão por aquele que o recebe, mas tem havido muitas conjecturas
sobre esse ponto e é justo esperar uma explicação para todas elas. Aqui estamos
falando baseados nos maiores expositores da Bíblia Sagrada, os maiores
pensadores bíblicos de todo o mundo. Pois bem, a maioria deles explica que o
"maná, a pedra branca, o novo nome" são bênçãos espirituais que os
cristãos já podem desfrutar nesta vida apesar de todos os sofrimentos. Mas,
como todas as outras promessas ao que vencer, também essa se refere, sem
dúvida, ao futuro e será dada quando chegar o tempo de os santos serem
recompensados pelo Cristo de Deus.
Talvez essas palavras de Bloomfield sejam
satisfatórias. Os comentadores pensam, geralmente, que isto se refere a um
antigo costume judicial, que era lançar
uma pedra negra numa urna quando se pretendia condenar,
e uma pedra branca quando
o preso devia
ser libertado. Mas este é um ato tão
distinto do "dar-te-ei uma pedra branca", e estamos dispostos a
concordar com os que pensam que se refere a um costume muito diferente.
Realmente, esse costume é relacionado,
com muita propriedade, com o caso que temos diante de nós, no Apocalipse. É
que, nos tempos primitivos, quando as viagens eram difíceis por falta de
lugares de alojamento público, os particulares exerciam, em larga escala, a
hospitalidade. E disso encontramos frequentes vestígios em toda a história, em
particular no Velho Testamento da Bíblia Sagrada. Ora, as pessoas que se
beneficiavam desta hospitalidade e aquelas que as praticavam, frequentemente,
contraíam hábitos de amizade e consideração mútua. Tornou-se costume arraigado entre
os gregos e romanos dar aos hóspedes algum sinal particular, que passava de
pais a filhos, que garantia a hospitalidade e bom tratamento sempre que era
apresentado. Este sinal era, geralmente, uma pequena pedra ou seixo cortado ao
meio, em cujas metades, tanto o hospedeiro como o hóspede, inscreviam seus
nomes trocando-as depois entre si. Ora, a apresentação desta pedra era o
bastante para assegurar amizade para si e para os descendentes, sempre que de
novo viajassem naquela direção. É evidente que essas pedras deviam ser bem
guardadas, e os nomes inscritos nelas, cuidadosamente ocultos, para que outros
não obtivessem os privilégios em vez das pessoas a quem eram destinadas.
Para terminar, é natural, portanto, a
alusão a este costume com as palavras do
texto do Apocalipse: "Darei a comer
do maná escondido, e
Nenhum comentário:
Postar um comentário