sexta-feira, 5 de julho de 2019


Pouco mais lhe restava do que títulos vãos e insígnias de vã sabedoria e chegava, agora, o tempo de estas próprias lhe serem desonrosamente arrancados. A grande lei do retorno: "Aqui se faz e aqui se paga", como diz a sabedoria popular.

Era a hora da extrema humilhação para o Império Romano. Uns 20 anos depois, ou mais, da morte de Átila, e menos ainda da morte de Genserico, que antes da sua morte visitou e assolou a Cidade Eterna numa das suas expedições marítimas de pilhagens, e assim preparou, ainda mais, a sua consumação iminente. Por esse tempo, Odoacro, chefe dos hérulus (um remanescente bárbaro das hostes de Átila), deixado nas fronteiras alpínas da Itália, ordenou que o nome e o cargo de Imperador Romano do Ocidente fossem inteiramente abolidos. E as autoridades se curvaram, submissamente, humildemente. O último fantasma do Imperador, cujo nome Rômulo Augústulus representava bem o contraste entre as glórias passadas de Roma e a sua presente degradação, finalmente abdicou.

O senado enviou as insígnias Reais a Constantinopla, dizendo ao Imperador do Oriente que bastava um só Imperador para o Império, e, assim, aquela terça parte do Sol Imperial Romano, que pertencia ao Império do Ocidente, se eclipsou, e nunca mais voltou a brilhar. Digo, aquela terça parte do seu orbe que pertencia ao Império do Ocidente, porque a fração apocalíptica é literalmente exata. Uma coisa extraordinária!

No último acordo entre as duas cortes, todo o terço ilírico foi abandonado à divisão Oriental; deu-se, assim, no Ocidente, a extinção do Império. Desceu a noite... Apesar disso, porém, deve ter-se em mente que a autoridade do nome romano ainda não tinha cessado por completo: o Senado de Roma continuava a reunir-se como de costume, os cônsules eram nomeados anualmente, um pelo Imperador do Oriente, outro pela Itália de Roma. O próprio Odoacro, notem bem, que coisa interessante, o próprio Odoacro governou a Itália com o título de "Patrício" que lhe fora conferido pelo Imperador do Oriente. Se olharmos para as mais distantes províncias do Ocidente ou, pelo menos, consideráveis distritos dela, o laço que as unia ao Império Romano estava completamente aniquilado. Havia, ainda, certo (posto que muitas vezes tênue) reconhecimento da suprema autoridade imperial. Um arrasamento, uma profecia cumprida à risca. A "lua" e as "estrelas" podiam parecer ainda brilhar sobre o Ocidente com  pálido  reflexo  de  luz.   No  curso,  porém,  dos  acontecimentos históricos, que rapidamente se  sucederam no seguinte meio século, estas mesmas foram extintas.

O ostrogodo Teodorico, ao destruir os hérulos e o seu reino em Roma e Ravena, governou a Itália de 493 a 526, como soberano independente, mas, quando Belisário e Narses conquistaram dos ostrogodos a Itália, conquista precedida por guerras e assolações que tornaram a Itália e, sobretudo, a sua cidade das sete colinas (Roma) durante certo tempo, quase deserta. O senado romano foi dissolvido e ab-rogado foi o consulado,   além  disso,   a  independência  dos  príncipes  bárbaros das províncias do Ocidente em relação ao poder Imperial Romano, se tornou, cada vez mais, distintamente averiguadas e compreendidas.

Decorrido mais de século e meio de calamidades quase sem par na história das nações, a frase de Jerônimo - frase moldada sobre a própria figura apocalíptica do texto - mas prematuramente pronunciadas por altura da primeira tomada de Roma por Alarico, podia considerar-se, por fim, cumprida: "Clarissimum terrarum lumen extinctum est" . E a tradução é simplesmente essa: "Extinguiu-se o glorioso sol de Roma".

Terríveis como foram as calamidades sobrevindas ao Império pelas primeiras incursões destes bárbaros, foram, relativamente, pequenas em comparação com as calamidades que se haviam de seguir. Foram apenas as primeiras gotas de chuvas que precederam a tempestade, que em breve havia de se desencadear sobre o mundo.

As três restantes trombetas são ensombradas por uma nuvem de  mau presságio, como vamos ver pelo versículo seguinte, o versículo 13. Quem diria que Roma, a orgulhosa Roma, teria esse fim tão trágico dentro da lei do retorno.

Capítulo 8, versículo 13:

"E olhei, vi e ouvi um anjo voando pelo meio do céu, dizendo em grande voz: Ai, Ai, Ai dos que habitam a terra por causa das outras vozes das trombetas dos três anjos que ainda têm de tocar!"

Este anjo não pertence a série dos anjos das sete trombetas. É, simplesmente, um anjo com missão de anunciar que as restantes trombetas e AIS, depois de passarem, quando forem tocadas, assinalando os mais terríveis acontecimentos.

Assim, portanto, a quinta trombeta é o primeiro AI, a  sexta  trombeta  é  o segundo AI, a sétima (a última desta série de trombetas) então sim, é o terceiro AI.

Entramos, assim, já no capítulo 9 deste Apocalipse segundo São João, logo no versículo 1:

"E o quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela do céu cair na terra. E lhe foi dada a chave do poço do abismo."

Para a exposição dessa trombeta vale a pena recorrer às luzes de Keith, um escritor inspirado que afirma com verdade: dificilmente se poderá ver um acordo tão uniforme entre os intérpretes do Apocalipse,  como justamente em torno da aplicação das  quinta e sexta trombetas, ou seja, do primeiro e segundo AIS. A aplicação exata aos turcos  e aos sarracenos é tão clara que, dificilmente, poderá ser mal compreendida. Em vez de um versículo ou dois designando cada um destes povos, todo o capítulo 9 deste Apocalipse, em partes iguais, é ocupado por uma descrição de ambos.

O império romano caiu como se levantou: pela conquista, pelo poder da força. Mas os sarracenos e os turcos foram os instrumentos pelos quais uma falsa religião se tornou flagelo de uma igreja apóstata, e, por isso, em vez de a quinta e sexta trombetas serem designadas como as primeiras apenas por esse nome, são chamadas AIS.

Que aconteceu? 

Constantinopla foi sitiada, pela primeira vez depois da extinção do Império Romano do Ocidente, por Cósroes II, rei da Pérsia.

"Uma estrela do céu caiu na terra e lhe foi dada a chave do poço do abismo". 

Enquanto o monarca persa contemplava as maravilhas da sua arte e poder, recebeu uma epístola de um obscuro cidadão de Meca. Para quê? Com o objetivo de convidá-lo a reconhecer Maomé como profeta de Allah, isto é, o profeta de Deus. Ele rejeitou, desdenhosamente, o convite, e ainda rasgou a epístola, e assim exclamou o profeta árabe: "Deus também rasgará o reino e rejeitará tua súplica, Cósroes". 

Dos limites destes dois Impérios do Oriente, Maomé observa, com secreta alegria, um progresso de destruição mútua, e no meio dos triunfos persas, aventurou-se a predizer: "Não decorreriam muitos anos e a vitória voltaria de novo para os estandartes dos romanos." 

No tempo em que se diz ter feito esta predição nenhuma profecia podia estar   mais   longe   de   se   cumprir,   porque os primeiros doze anos de Heráclio anunciavam a próxima dissolução do Império. Não foi como aconteceu com Átila ("sobre um só lugar caiu a estrela", mas na terra).

Cósroes subjugou as possessões romanas na Ásia e na África e o Império Romano, nesse período,  estava reduzido às muralhas de Constantinopla com o resto da Grécia, Itália e África e algumas cidades marítimas da costa asiática, desde Tiro a Trebizonda. 

A experiência de três anos persuadiu, por fim, o monarca persa a renunciar a conquista de Constantinopla e a especificar o tributo anual de resgate do Império Romano: mil talentos de ouro, mil talentos e prata, mil vestidos de seda, mil cavalos e mil virgens. Heráclio subscreveu estes termos ignominiosos e humilhantes. Mas, o tempo e o espaço que ele ocupou para coletar esses tesouros da pobreza do Oriente foram, industriosamente, preparados na organização de um ousado e desesperado ataque. 

O rei da Pérsia desprezou o obscuro sarraceno, escarneceu da mensagem do pretenso profeta de Meca, nem mesmo a derrocada do Império Romano teria aberto uma porta ao maometismo ou ao progresso dos armados propagadores do profeta de Meca. O próprio Cósroes, finalmente, caiu. As monarquias, persa e romana, extinguiram mutuamente suas forças, e, antes de ser posta uma espada nas mãos de Maomé, ela foi arrebatada das mãos daquele que teria omitido sua carreira e esmagado o seu poder.

Desde os dias de Cipião e Aníbal, nenhuma empresa mais audaz foi tentada, do que a de Heráclio, para a libertação do Império. Explorou o seu perigoso caminho através do mar negro. Nas montanhas da Armênia penetrou no coração da Pérsia, desafiou os exércitos do grande rei a defenderem o seu ensanguentado país,   e na batalha de Nínive,   travada



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