Pouco mais lhe restava do que títulos
vãos e insígnias de vã sabedoria e chegava, agora, o tempo de estas próprias lhe
serem desonrosamente arrancados. A grande lei do retorno: "Aqui se faz e
aqui se paga", como diz a sabedoria popular.
Era a hora da extrema humilhação para
o Império Romano. Uns 20 anos depois, ou mais, da morte de Átila, e menos ainda
da morte de Genserico, que antes da sua morte visitou e assolou a Cidade
Eterna numa das suas expedições marítimas de pilhagens, e assim preparou, ainda
mais, a sua consumação iminente. Por esse tempo, Odoacro, chefe dos hérulus (um
remanescente bárbaro das hostes de Átila), deixado nas fronteiras alpínas da
Itália, ordenou que o nome e o cargo de Imperador Romano do Ocidente fossem
inteiramente abolidos. E as autoridades se curvaram, submissamente,
humildemente. O último fantasma do Imperador, cujo nome Rômulo Augústulus representava bem o contraste entre as glórias passadas de Roma e a sua presente
degradação, finalmente abdicou.
O senado enviou as insígnias Reais a
Constantinopla, dizendo ao Imperador do Oriente que bastava um só Imperador
para o Império, e, assim, aquela terça parte do Sol Imperial Romano, que pertencia
ao Império do Ocidente, se eclipsou, e nunca mais voltou a brilhar. Digo, aquela
terça parte do seu orbe que pertencia ao Império do Ocidente, porque a fração
apocalíptica é literalmente exata. Uma coisa extraordinária!
No último acordo entre as duas cortes,
todo o terço ilírico foi abandonado à divisão Oriental; deu-se, assim, no
Ocidente, a extinção do Império. Desceu a noite... Apesar disso, porém, deve
ter-se em mente que a autoridade do nome romano ainda não tinha cessado por
completo: o Senado de Roma continuava a reunir-se como de costume, os cônsules
eram nomeados anualmente, um pelo Imperador do Oriente, outro pela Itália de
Roma. O próprio Odoacro, notem bem, que coisa interessante, o próprio Odoacro
governou a Itália com o título de "Patrício" que lhe fora conferido
pelo Imperador do Oriente. Se olharmos para as mais distantes províncias do
Ocidente ou, pelo menos, consideráveis distritos dela, o laço que as unia ao
Império Romano estava completamente aniquilado. Havia, ainda, certo (posto que
muitas vezes tênue) reconhecimento da suprema autoridade imperial. Um arrasamento, uma profecia cumprida à risca. A "lua" e as "estrelas"
podiam parecer ainda brilhar sobre o Ocidente com pálido reflexo de luz.
No curso, porém, dos
acontecimentos históricos, que
rapidamente se sucederam no seguinte
meio século, estas mesmas foram extintas.
O ostrogodo Teodorico, ao destruir os
hérulos e o seu reino em Roma e Ravena, governou a Itália de 493 a 526, como
soberano independente, mas, quando Belisário e Narses conquistaram dos
ostrogodos a Itália, conquista precedida por guerras e assolações que tornaram
a Itália e, sobretudo, a sua cidade das sete colinas (Roma) durante certo
tempo, quase deserta. O senado romano foi dissolvido e ab-rogado foi o
consulado, além disso, a independência dos príncipes bárbaros das províncias do Ocidente em relação ao
poder Imperial Romano, se tornou, cada vez mais, distintamente averiguadas e
compreendidas.
Decorrido mais de século e meio de
calamidades quase sem par na história das nações, a frase de Jerônimo - frase
moldada sobre a própria figura apocalíptica do texto - mas prematuramente
pronunciadas por altura da primeira tomada de Roma por Alarico, podia considerar-se,
por fim, cumprida: "Clarissimum
terrarum lumen extinctum est" . E a tradução é simplesmente essa: "Extinguiu-se o
glorioso sol de Roma".
Terríveis como foram as calamidades
sobrevindas ao Império pelas primeiras incursões destes bárbaros, foram, relativamente, pequenas em comparação com as calamidades que se haviam de
seguir. Foram apenas as primeiras gotas de chuvas que precederam a tempestade, que em breve havia de se desencadear sobre o mundo.
As três restantes trombetas são
ensombradas por uma nuvem de mau
presságio, como vamos ver pelo versículo seguinte, o versículo 13. Quem diria
que Roma, a orgulhosa Roma, teria esse fim tão trágico dentro da lei do
retorno.
Capítulo 8, versículo 13:
"E olhei, vi e ouvi um anjo voando pelo meio
do céu, dizendo em grande voz: Ai, Ai, Ai dos que habitam a terra por causa das
outras vozes das trombetas dos três anjos que ainda têm de tocar!"
Este anjo não pertence a série dos
anjos das sete trombetas. É, simplesmente, um anjo com missão de anunciar que
as restantes trombetas e AIS, depois de passarem, quando forem tocadas,
assinalando os mais terríveis acontecimentos.
Assim, portanto, a quinta trombeta é o
primeiro AI, a sexta trombeta é o
segundo AI, a sétima (a última desta série de trombetas) então sim, é o
terceiro AI.
Entramos, assim, já no capítulo 9
deste Apocalipse segundo São João, logo no versículo 1:
"E o quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi
uma estrela do céu cair na terra. E lhe foi dada a chave do poço do
abismo."
Para a exposição dessa trombeta vale a
pena recorrer às luzes de Keith, um escritor inspirado que afirma com verdade: dificilmente
se poderá ver um acordo tão uniforme entre os intérpretes do Apocalipse, como justamente em torno da aplicação das quinta e sexta trombetas, ou seja, do
primeiro e segundo AIS. A aplicação exata aos turcos e aos sarracenos é tão clara que,
dificilmente, poderá ser mal compreendida. Em vez de um versículo ou dois
designando cada um destes povos, todo o capítulo 9 deste Apocalipse, em partes
iguais, é ocupado por uma descrição de ambos.
O império romano caiu como se
levantou: pela conquista, pelo poder da força. Mas os sarracenos e os turcos
foram os instrumentos pelos quais uma falsa religião se tornou flagelo de uma
igreja apóstata, e, por isso, em vez de a quinta e sexta trombetas serem
designadas como as primeiras apenas por esse nome, são chamadas AIS.
Que aconteceu?
Constantinopla foi
sitiada, pela primeira vez depois da extinção do Império Romano do Ocidente,
por Cósroes II, rei da Pérsia.
"Uma estrela
do céu caiu na terra e lhe foi dada a chave do poço do abismo".
Enquanto o monarca persa contemplava
as maravilhas da sua arte e poder, recebeu uma epístola de um obscuro cidadão
de Meca. Para quê? Com o objetivo de convidá-lo a reconhecer Maomé como profeta
de Allah, isto é, o profeta de Deus. Ele
rejeitou, desdenhosamente, o convite, e ainda rasgou a epístola, e assim
exclamou o profeta árabe: "Deus
também rasgará o reino e rejeitará tua súplica, Cósroes".
Dos
limites destes dois Impérios do Oriente, Maomé observa, com secreta alegria, um
progresso de destruição mútua, e no meio dos triunfos persas, aventurou-se a
predizer: "Não
decorreriam muitos anos e a vitória voltaria de novo para os estandartes dos
romanos."
No
tempo em que se diz ter feito esta predição nenhuma profecia podia estar mais longe de se cumprir,
porque os primeiros doze anos de
Heráclio anunciavam a próxima dissolução do Império. Não foi como aconteceu com
Átila ("sobre um só lugar caiu a estrela", mas na terra).
Cósroes subjugou as possessões romanas na Ásia e na
África e o Império Romano, nesse período,
estava reduzido às muralhas de Constantinopla com o resto da Grécia,
Itália e África e algumas cidades marítimas da costa asiática, desde Tiro a Trebizonda.
A experiência de três anos persuadiu, por fim, o monarca persa a renunciar a
conquista de Constantinopla e a especificar o tributo anual de resgate do
Império Romano: mil talentos de ouro, mil talentos e prata, mil vestidos de
seda, mil cavalos e mil virgens. Heráclio subscreveu estes termos ignominiosos
e humilhantes. Mas, o tempo e o espaço que ele ocupou para coletar esses tesouros
da pobreza do Oriente foram, industriosamente, preparados na organização de um
ousado e desesperado ataque.
O rei da Pérsia desprezou o obscuro sarraceno,
escarneceu da mensagem do pretenso profeta de Meca, nem mesmo a derrocada do
Império Romano teria aberto uma porta ao maometismo ou ao progresso dos armados
propagadores do profeta de Meca. O próprio Cósroes, finalmente, caiu. As
monarquias, persa e romana, extinguiram mutuamente suas forças, e, antes de ser
posta uma espada nas mãos de Maomé, ela foi arrebatada das mãos daquele que
teria omitido sua carreira e esmagado o seu poder.
Desde os dias de Cipião e Aníbal,
nenhuma empresa mais audaz foi tentada, do que a de Heráclio, para a libertação
do Império. Explorou o seu perigoso caminho através do mar negro. Nas montanhas
da Armênia penetrou no coração da Pérsia, desafiou os exércitos do grande rei a
defenderem o seu ensanguentado país, e
na batalha de Nínive, travada
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